24/10/2008 12:10:34
O governo Lula vem negando peremptoriamente a necessidade de edição de um pacote contra os efeitos da crise internacional. Nada, por enquanto, indica que o Brasil venha a precisar tomar medidas semelhantes às adotadas nos Estados Unidos e na Europa. Mas, na quarta-feira 22, ante o aprofundamento das incertezas no cenário mundial e sinais de riscos maiores no sistema bancário brasileiro, a equipe econômica tomou uma decisão que vai além das intervenções pontuais feitas até agora. A Medida Provisória 448 vai permitir ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica Federal agir rápido, caso a equipe econômica avalie ser necessário o resgate de uma instituição financeira ou empresa privada para manter a confiança no sistema. A concessão de poderes aos bancos públicos, por si só, não significa que haja chance real e iminente de quebradeira no mercado. Ficou claro, porém, o temor do governo de que a situação dos bancos médios e pequenos evolua da atual falta de liquidez para um quadro de insolvência. Na prática, o presidente Lula avaliou ser prudente não se fiar totalmente nas promessas do colega americano George W. Bush, que, em um telefonema de 15 minutos na terça-feira 21, avaliou que em duas semanas os efeitos positivos da enxurrada de dinheiro despejado pelos bancos centrais de todo o mundo vão começar a dissipar a crise. As novas medidas também mostram que Lula não pretende contar com as chamadas soluções de mercado caso bancos ou empresas venham a quebrar por falta de fôlego financeiro. Muito da sensibilidade do governo em relação aos efeitos da crise sobre a economia real será revelado, ainda, pela decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) a respeito da taxa de juro básica da economia, na quarta-feira 29. A diretoria do Banco Central, aliás, não vê com bons olhos o aumento do poder dos bancos públicos, decisão que coube ao ministro da Fazenda, Guido Mantega. Para o time do presidente do BC, Henrique Meirelles, o melhor seria pagar para ver e, eventualmente, deixar um banco de menor porte ir à lona. À página 26, Luiz Gonzaga Belluzzo argumenta que esta estratégia seria arriscada. “Bancos centrais estão obrigados a intervir para domar a mula-sem-cabeça dos mercados infectados pela desconfiança. Deixar o bicho à solta é grave irresponsabilidade. Deixada à sua própria dinâmica, a crise de liquidez transforma-se na crise de crédito, depois transfigurada num festival de insolvências. Nos países da periferia, a sarabanda pode terminar num triste episódio de fuga da moeda local e caos monetário”, escreve. A MP 448 permite que as instituições financeiras estatais arrematem outros bancos, seguradoras, entidades abertas de previdência e de capitalização. No caso da Caixa, há a possibilidade de ser criada uma subsidiária de investimento para comprar ações de construtoras e incorporadoras. A decisão não foge ao exemplo de governos europeus e mesmo o dos Estados Unidos. Mesmo assim, analistas econômicos reagiram mal ante a remota possibilidade de uma onda de estatizações, ao mesmo tempo que os investidores se perguntavam se haveria empresas na iminência de quebrar. Pela sexta vez em menos de 30 dias, foi acionado pela Bovespa o mecanismo chamado de circuit breaker, que paralisa os negócios por meia hora quando a desvalorização supera 10% em um único pregão.
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